quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CRITICAS SOBRE O TRABALHO DO TEATRO KAUS

REVOLTA LATINO-AMERICANA - VICTOR BOGADO - CRITICO

A cidade de São Paulo, Brasil converteu-se no centro teatral mas importante desse país, com muitas companhias e grupos entre os quais alguns são experimentais - é dizer que procuram novas linguagens cênicos como o Teatro Kaus que nos visita com a peça A Revolta do dramaturgo argentino Santiago Serrano (é ademais psicanalista, diretor do Grupo Teatral Encuentros e psicodramatista), sob a direção de Reginaldo Nascimento.

A peça -estreada em Buenos Aires em 1984- acontece no campo e em tempo indefinido mas é fácil inferir que pode ser um pais latino-americano e que sofre os embates de um movimento social violento com o fim de criar uma sociedade mais justa e por conseqüência mais humana e solidaria. Em poucas palavras, A Revolta fala sobre a condição humana, da luta entre o bem e o mal, do logro de nossos ideais e o enfrentamento por vezes violento - com nossas debilidades e deslealdades. (Toda peça teatral tem em última instancia. um fundo axiológico, é dizer conflitos onde lutam valores e anti-valores).

É como uma reflexão em voz alta sobre a sociedade atual -com diferentes desigualdades sociais que nos convida a pensar e analisar sobre nosso accionar como seres humanos a procura do bem comum.O elenco paulista fez um grande esforço para nos trazer uma versão em língua espanhola, feito que entorpeceu em parte a perfeita compreensão do texto. Mas o texto espetacular com sua fisicalidade, unido à energia, concentração e entrega dos intérpretes em seus respetivos papesi salvou o problema da lingua e como resultado nos entregaram una homogenia atuação de todo o elenco conformado por Amália Pereira como Malva, Maritta Cury no papel de Judith, Gisele Porto a Sara, Antônio Ranieri Martín e Adriana Cubas no papel de Antônia.

A cenografia, iluminação e figurinos criam o ambiente visual apropriado para esse drama rural. A direção cénica do jovem diretor Reginaldo Nascimento é correta, dotando à montagem de plasticidade, bom ritmo e "timing" atoral.A Revolta é una mostra da integração teatral e cultural que deve se fazer em nosso continente paralelamente à integração econômica do MERCOSUL e permitirá estreitar laços de amizade entre nossos povos e o conhecimento de nossas respectivas dramaturgias.

O projeto teatral do Grupo Kaus chamado Fronteiras de difusão da dramaturgia latino-americana no Brasil é um exemplo que toda a comunidade teatral deveria imitar e apoiar com muito interesses e cooperação solidaria. Nesse sentido, os Temporais Internacionais de Teatro tem aportado seu grão de areia nesta direção desde já o faz a mais de dez anos.

VICTOR BOGADO -Julho de 2007
TEMPORALES INTERNACIONALES DE TEATRO DE PUERTO MONTT - CHILE
http://www.temporalesteatrales.cl/espanol/obras/Paginas/ver_enlaces.php?id=8&foto=603781822.JPG

CRITICA A REVOLTA. DIGESTIVO CULTURAL
As Revoluções e a latinidade - Guilherme Conte


O historiador Eric Hobsbawn tem uma linha de pensamento que pode ser sintetizada na máxima de que a história é feita de permanências e rupturas. Estas se caracterizam por transformações radicais e violentas que subvertem a ordem vigente e estabelecem um novo status quo. Revoluções exigem sangue e sacrifícios. É difícil operar as transformações para o estabelecimento de uma nova ordem. Esta, por sua vez, carrega dentro de si uma lógica que só é passível de ser derrubada por uma nova revolução. É essa condição de falibilidade intrínseca mantém a tensão entre os atores do jogo histórico.

A Revolta, do argentino Santiago Serrano, fala sobre revoluções. As grandes e as pequenas, as universais e as particulares. Situada em um ambiente rural sem tempo época definido, traz uma revolução social como pano de fundo para o palco das pequenas revoluções – as cotidianas, mundanas, que perfazem o nosso dia a dia. Malva (Amália Pereira) é uma matriarca que se vê as voltas com uma ausência dolorosa em sua casa: um de seus filhos foi preso pelos opressores da sociedade local, por “suas idéias”. Sua voluptuosa nora Judith (Maritta Cury), a “gringa”, sofre com a carência e a falta do marido, além de estar em um país distante. Ela se envolve perigosamente com Martin (Antonio Ranieri), o outro filho de Malva, que trabalha para os mesmos senhores que prenderam o irmão. Nesse tenso ambiente ainda transita Sara (Janette Santiago), a escrava da família.

A iminência da revolta e da volta do filho aprofunda os conflitos entre as personagens e manda às favas o tênue equilíbrio que sustentava a casa. O resultado é violência, tanto física quanto verbal. O texto de Serrano acaba funcionando como uma grande reflexão da própria evolução da história da América Latina. Ali estão os estrangeiros que vêm para explorar a terra e seus recursos, o estrangeiro que pensa a revolução com um olhar externo, o povo oprimido, o opressor, os que pensam a revolução como um bem geral, os que vêem nela benefícios individuais... Malva, incapaz de ver o que acontece em sua volta, projeta no filho preso e em sua revolução seu obstinado desejo de vingança. Seus diálogos com a vizinha Antonia (Adriana Cubas), seu contraponto ideológico, evidenciam o choque entre as razões pessoais e o pensamento em um bem maior, que beneficie a todos de alguma forma.

A direção de Reginaldo Nascimento acerta em optar por uma construção cênica que prioriza o texto e o trabalho de ator. Os elementos cenográficos são os minimamente necessários para que a trama se desenvolva com os diálogos e as ações sem se sobreporem. É notável também seu talento para a criação de imagens marcantes. É possível apreender da montagem um sólido trabalho de construção de interpretações, uma das preocupações fundamentais da Teatro Kaus Cia. Experimental. Todos estão muito seguros de suas personagens e intenções. O que pesa contra o jovem elenco é talvez certo excesso de rigidez. As interpretações resultam, no geral, um tanto quanto duras, marcadas. Isso fica evidente, por exemplo, no modo de falar de Amália: talvez por pretenso virtuosismo, talvez por excesso de esmero, sua Malva soe barroca demais, o que compromete a própria compreensão plena do texto e de todas as suas nuances verbais. Um tom abaixo na partitura pode fazer com que o personagem ganhe em naturalidade. São falhas que tendem a se atenuar e até desaparecer ao longo do amadurecimento do espetáculo em temporada.

A troca com o público é valiosa quando se tem um grupo aberto e interessado no aprimoramento de uma linguagem, o que parece ser o caso do Kaus. É de se destacar, aliás, a iniciativa do grupo de construir um trabalho ancorado em uma séria e constante pesquisa de dramaturgia. A Revolta é um dos filhos do projeto “Fronteiras – O Teatro na América Latina”, que também englobou as montagens de Infiéis, do chileno Marco Antonio de La Parra, e de El Chingo, do venezuelano Edílio Peña. Ficam os votos de que a peça entre em temporada na cidade e a curiosidade a respeito dos caminhos a serem tomados pela companhia.
Guilherme Conte São Paulo, 23/3/2007

EL CHINGO E OS FANTASMS DE CADA UM - RUY FILHO

Um homem solitário finge ser fanho e contrata uma empresa de atores especializada em psicodrama para rever sua mãe. Por equívoco, quem chega é um ator, que precisa realizar o serviço para se manter no emprego. Esta é a base do espetáculo El Chingo, escrito pelo dramaturgo venezuelano Edílio Peña.

A montagem, encenada pela Teatro Kaus Cia. Experimental e dirigida por Reginaldo Nascimento, pode ir além do que está, propondo experimentações maiores na interpretação e cena. O demasiado respeito ao texto, vencedor do Prêmio Nacional de Dramaturgia da Casa de la Cultura de Maracay, torna o espetáculo comedido e correto, sem riscos, mas ao mesmo tempo revela em Nascimento um diretor objetivo, honesto.Se ficamos com vontade de ver surpresas, ao mesmo tempo é nítida a luta da companhia Kaus por amadurecimento de uma linguagem própria. E isso infelizmente é raridade entre os grupos atuais.

A escolha pela ênfase no final trágico traz acertos e fragilidades. Ao conduzir a criação dos personagens de maneira mais agressiva, esquizofrênica, o espetáculo ganha em potência dramática, ainda que isso enfraqueça o humor próprio da situação.Perde-se também a possibilidade de ser trabalhada a metáfora da atuação, do fingir, na busca clara do texto em transcender ao teatro, elaborando um interessante jogo meta-teatral para refletir sobre a condição própria do homem e a necessidade constante de se fazer outro para dialogar com seus medos e semelhantes.

Edílio Peña oferece mais do que jogos de cena. Elabora um complexo sistema de metáforas sobre o fazer teatral, deixando claro suas críticas ao amadorismo e despreparo dos profissionais. Em falas aparentemente casuais, surgem comentários ácidos ao comportamento familiar e a situação política venezuelana, quando o país é confundido com a Bolívia, por exemplo.No melhor estilo de Harold Pinter, o conflito é recheado por silêncios de incompreensão do outro e cumplicidade, silêncios esses esquecidos na montagem, que trata o texto de maneira tradicional e ortodoxa.

Há o tom sarcástico do ridículo na situação do ator travestido em mãe, no fanho fingido, na mesa posta feito cenário para compor o encontro com os diálogos escritos pelo contratante, na foto de Vivian Leigh, tal como uma mãe perfeita. Instigante, aos poucos o enredo mostra as contradições dos personagens, conduzindo o espectador a uma busca frenética por compreensão.Mas não é sobre o entendimento que fala El Chingo, pelo contrário. O espetáculo trata de culpas, sensações guardadas que necessitam ser expurgadas e que só dizem respeito a seus personagens, angústias e solidões. E nos reporta a uma viagem aos nossos próprios fantasmas.

El Chingo mostra por que Peña é um dos mais interessantes dramaturgos latinos, com montagens em diversos países. Sua dramaturgia vai além da construção impecável para compor momentos de inquietação da alma do homem contemporâneo. Um retrato duro do que nos tornamos quando a solidão é cada vez mais a nossa defesa.

SEM FRONTEIRAS
Santiago Serrano - Dramaturgo Argentino


Eu tive a fortuna de assistir durante o Ciclo de Debates sobre o teatro na América Latina a ensaios abertos das três peças que formam parte do repertório que Teatro Kaus apresenta em seu projeto “Fronteiras” Sendo autor de uma das peças não e minha intenção falar de a qualidade de meu próprio texto o de os de meus colegas Peña e De la Parra mas não posso deixar de reflexionar sobre o trabalho do grupo que encenou com muito profissionalismo três propostas diferentes provenientes de Chile, Venezuela e Argentina.
Edilio Peña. Dramaturgo Venezuela


Infiéis: Com texto de Antônio De la Parra apresenta um maravilhoso jogo cênico onde o tempo e o espaço perdem a sua lógica e cada um dos quatro protagonistas desnudam seus mais íntimos desejos. Só quatro atores em um pequeno espaço cheio de camas bastaram como elementos para mostrar o amor e a traição, a vida e a morte. Sim vítimas nem verdugos o diretor fez que os atores com grande virtuosismo expunham as complexas arestas de suas personagens. Maritta Cury transita de uma sensualidade quase agressiva a uma infinita fragilidade. Robson Raga pode ser um homem com coragem para chutar o tabuleiro da sua vida em procura da felicidade e também um covarde que sempre é infiel a sim mesmo. Amália Pereira é a fiel e sensata esposa que deslumbra com seus desejos reprimidos. Angelo Coimbra como o homem inexpugnável deixa todo o tempo a vista um pouco de sua impotência.Uma encenação precisa e muito rigorosa de Reginaldo Nascimento que faz próprio um texto aparentemente estrangeiro.

El Chingo: A peça de Edilio Peña é a mostra da procura impossível do homem por seu desejo. Dois solitários que caminham pela vida tentando realizar suas mais profundas fantasias se encontram e começa entre eles uma relação que pode salvá-los o perdê-los. Robson Raga põe todo seu histrionismo ao serviço de sua personagem e alcança a corporizá-lo Djalma de Lima desde a contenção das emoções chega ao inesperado final com grande intensidade.
Os dois deixam cair suas máscaras mas sempre por debaixo tem outras que fazem mais ricos e complexos as personagens. Reginaldo Nascimento desde a direção cria um mecanismo simples, mas muito eficiente, que faz transitar ao espectador do riso até o estupor.

A Revolta: Minha peça foi definida por um crítico como uma tragédia moderna. Eu coincido com esse conceito. É uma peça épica que por a intensidade dos sentimentos que transita e por sua linguagem quase poético a fazem muito difícil para sua encenação. Eu assisti a um ensaio aberto e ao estréio no Centro Cultural São Paulo e para mim foi uma experiência que me fez enriquecer.
Eu pude ver o trabalho minucioso que o diretor fez com o texto e os atores. Cada palavra que eles dizem no palco esta profundamente compreendida e sentida. A cenografia e o movimento dos atores são de grande beleza estética mas nunca fazem perder de vista a atenção do texto e da história. Reginaldo Nascimento pôs todo seu talento em serviço da peça.
Amália Pereira é a Malva eixo da tragédia e impacta pela sua densidade dramática. Ela é em corpo e alma a velha que de sua poltrona dirige os destinos de aqueles que a rodeiam.Janete Santiago transmite com calidez e emoção o crescimento da Sara de menina a mulher. Antonio Ranieri e Maritta Cury debatem-se com grande intensidade entre as contradições de Martin e Judith e juntos fazem cenas de muita sensualidad e violência. Finalmente a Antonia que a flor da pele compõe Adriana Cubas deslumbra pela sua entrega emocional. Diretor e atores ao serviço de contar uma historia de lutas e traições que nasceu em Argentina mas que eles fazem universal.
Teatro Kaus: Risco, rigorosidade e profissionalismo são palavras que podem definir a este grupo que um dia sonhou com pesquisar nas dramaturgias do resto da América Latina e que tiveram a coragem de fazê-lo com respeito e dedicação. Eles com seu projeto “Fronteiras” nos demonstram que em teatro as fronteiras não existem e que a aproximação com diferentes línguas e culturas nos faz enriquecer a todos. Quando os outros falam de sim mesmos sempre falam de nós. Santiago Serrano Buenos Aires, 9 de março de 2007


O PERFIL TEATRAL DE KAUS

A companhia teatral Kaus, nos tem oferecido três notáveis espetáculos teatrais este ano: Infiéis, A Revolta e El Chingo, com os que há exposto uma concepção de madura teatralidade que pomos encontrar nas suteis encenações de seu diretor Reginaldo Nascimento. Em cada uma de elas, encontramos uma olhada que recriar as histórias escritas, uma visualização particular para abordar estas três peças, de estilos e composições dramatúrgicas diferentes, as duas primeiras mais próximas ao naturalismo e a terça ao absurdo, desde a perspectiva de uma assunção estética clara e definida, mas sobre tudo, nova. Reginaldo Nascimento é um criador de universos cênicos pessoais.

Na montagem das peças de autores latino-americanos, Santiago Serrano (A Revolta), Marco Antônio de la Parra (Infiéis), e Edilio Peña (El Chingo), Reginaldo Nascimento aproximou-se lá interpretação destas peças mediante a desconstrução do espaço e o tempo onde ficam contextualizadas as histórias das mesmas. É dizer, as três peças sugerem um espaço particular de acontecimento, mas o diretor preferiu apagar o espaço referencial proposto pelos autores, e ir a um espaço quântico onde só sobreviveram alguns referentes que lembraram os propostos pelos escritores.


Assim, estas montagens de Reginaldo Nascimento, concitaram também um tempo sem tempo, onde as personagens das peças pareciam emergir da obscuridade e a nada, para alojar-se, como passageiras de uma poética feliz, ante a olhada curiosa dos espetadores. Do mesmo modo, os sentimentos das personagens foram concentrados na interpretação acertada dos atores, e não na procura de uma espetacularidade fácil, fora da interioridade, que incapacitara ao ator, como intérprete e visualizador também, das peças representadas.

Assim, a intensidade dramática de uma peça como Infiéis, foi vista desde a cor branco, objetivo, sereno, para procurar compreender em sua justa medida, o desgarramento de umas personagens infiéis a sua própria história coletiva e pessoal. A disposição cênica de A Revolta, também, nos permitiu compreender a ausência do herói (filho, irmão e esposo), por médio de um fundo vazio que expressava a irresolução afetiva de todas as personagens, em particular, o da mãe devoradora, cheia de raiva y ressentimento.


Em El Chingo, a penumbra neblinada é a plataforma onde um personagem traumatizado como El Chingo, convocava a luz de um ausente idealizado como sua suposta mãe: Vivian Leigh. Em fim, cada uma das encenações, foram conformadas com pontualidade, contundência e deslumbramento cênico. Tambem , devo reconhecer, como um importante asserto o Encontro entre dramaturgos e diretores latino-americanos, que aconteceu no Instituto Cervantes, e também foi organizado pela companhia teatral Kaus, e possibilitou dialogar o debater em torno às propostas e caraterísticas dramatúrgicas e cênicas, da nossa cena latino-americana.

Um Encontro que permitiu nos conhecer mais e definir nossos particulares perfiles. Pela impecável organização de este evento por parte da companhia teatral Kaus, criaram-se as condições para que os teatristas latino-americanos se encontrem para vencer, assim, o desconhecimento e a ignorância que a vezes fica em nosso território. Acho que a companhia teatral Kaus, tem muito de seu nome, mas com a premissa e o fim de reordenar o caos, para procura lhe a este, sua verdadeira essência criadora e vital.

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